Coxim, sete de abril de mil novecentos e setenta e seis. Nascia em um ranchinho na beira do rio Taquari uma menina com o nome de Neidy. Poderia ser uma Neidy como tantas, mas a nossa Neidy é especial. Ela é uma mulher batalhadora, decidida, guerreira e principalmente, pioneira.
Muda-se com para Costa Rica e lá passa a infância e adolescência, criada no sítio em que a pecuária leiteira era a base econômica da família. A produção de leite e derivados fez parte da rotina e preenchia os dias de Neidy no campo. Mas avançar era preciso. Coragem e força de vontade não faltavam para a adolescente que logo convenceu os pais a levá-la para Campo Grande para estudar e ampliar seus horizontes.
Em 1994 surge a oportunidade de sua vida. Através de um conselho do pai de uma amiga, ela se inscreve e é aprovada no concurso para a academia da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Como ainda não era maior de idade, Neidy precisou ser emancipada legalmente pelos pais para poder cursar a academia no estado de São Paulo.
Aquela garota do interior, que até tinha medo da polícia, rumou para o interior (capital) paulista. Um misto de sentimentos povoou a sua mente e coração. Medo do desconhecido, angústia, saudades de casa não foram maiores que a força, a garra e a determinação de terminar um objetivo simples e claro: só voltar para o MS como Aspirante à Oficial da PM/MS. Depois de milhares de horas de estudos e alguns ossos quebrados nas rígidas instruções, Neidy retorna ao estado natal triunfante e habilitada para prosseguir sua bela carreira.
“Até pensei em desisitir no terceiro ano da academia. Meu pai não permitiu porque a missão estava iniciada e era necessário ir até o final. Sou grata até hoje pela orientação sábia de meu pai”.
Mas o seu caminho nunca foi fácil ou simples. Sempre teve que lutar pelo seu espaço de forma exemplar. Estamos no final dos anos 90, início dos anos 2000. Uma mulher oficial nas fileiras da PM/MS ainda não era algo corriqueiro. Precisou provar o seu valor e buscar o seu espaço. Chegou a ouvir de um comandante que mulher só servia para o Batalhão de Trânsito, por isso não seria designada para a o Batalhão de Cavalaria, onde preferia atuar por ter os cavalos como uma paixão.
Mas também foi acolhida pelos companheiros de polícia. Passou festas de fim de ano na residência de vários deles quando ainda encontrava-se sozinha em Campo Grande, fazendo assim da Polícia Militar uma extensão da sua família. Foi a tropa que a ajudou a perseverar nos momentos mais difíceis, a superar os diversos obstáculos que encontrou em seu caminho.
“Foi um período muito complicado da minha vida, mas encontrei amigos dentro da corporação que me ajudaram muito, principalmente para sentir o gostinho do convívio familiar, que me fazia falta naquele momento”, analisa Neidy.
Todas essas dificuldades e barreiras foram forjando a pessoa e a policial militar Neidy. E as vitórias não tardaram a acontecer. Finalmente foi transferida para a Cavalaria, batalhão onde conseguiu grandes realizações como o Equoterapia e a conquista do comando.
“A Equoterapia é um trabalho que me orgulho profundamente. É um dos maiores trabalhos sociais da Polícia Militar. E olha que a PM tem muito trabalho social desenvolvido em todo o MS. Na Equoterapia são mais de cinco mil famílias atendidas. E lá podemos oferecer todo um trabalho multidisciplinar para as pessoas com necessidades especiais. Trabalhamos a socialização, a noção temporal e espacial, equilíbrio e coordenação motora, ensinamos a importância da rotina e organização, além de outros inúmeros aspectos. É um ponto de apoio importante para as famílias atendidas!”
A Equoterapia tornou-se um instrumento tão poderoso de aproximação da PM com a sociedade que o trabalho é expandido para mais cinco cidades do interior. Coronel Neidy foi parte fundamental desse processo ao provar o quanto esse tipo de atendimento é importante para a comunidade atendida.
Em sua trajetória profissional, Coronel Neidy foi a primeira mulher subcomandante 1º EIPMMont, primeira mulher comandante do 2º Pelotão Montado de Dourados , primeira mulher subcomandante do 6º BPM em Corumbá e primeira mulher subcomandante do 14º Batalhão de Polícia Militar Rodoviária.
Toda a sua experiência, junto com os anos de estudo (que nunca cessaram), a forma com que sempre conduziu as situações mais críticas dentro da PM, acabaram por fazer que grande parte dos integrantes da PM fizessem um convite, quase um ultimato, para que ela se candidate a Deputada Federal. Essa confiança vem da certeza de que ela vai lutar incessantemente pela Segurança Pública. Profunda conhecedora do tema, Coronel Neidy é capaz de propor um debate pragmático para apontar soluções práticas para as mazelas que a muito tempo tem assolado a nossa sociedade.
Reformas no nosso Código Penal, segurança jurídica para as polícias poderem atuar, novas diretrizes para investimento em mais inteligência e maior integração nos bancos de dados policiais são propostas que Coronel Neidy levará para discussão. Além de ter um olhar mais sensível ao papel da mulher, principalmente as que são vítimas de abusos e agressões.
“Me sinto preparada para essa missão. Talvez a mais importante, de representar o meu Estado e propor debates que possam nos levar a um país melhor, com mais segurança, com mais desenvolvimento, com mais emprego, com mais saúde e educação.”